Cera de Carnaúba

A carnaúba está presente no cenário do semiárido, do litoral ao sertão, distribuindo-se do Maranhão à Bahia ao longo dos rios ou em áreas inundadas e de pouca profundidade.

 Os índios aproveitavam quase tudo dessa árvore que arranha, significado da palavra carnaúba na língua tupi, referindo-se à sua casca áspera. Do tronco, saíam os artefatos; do palmito, a farinha; dos frutos, o alimento; das raízes e amêndoas, remédios capazes de curar as piores dores.


Os sertanejos acrescentaram mais algumas aplicações à árvore de mil e uma utilidades. A palha serve hoje para adubação do solo e a cera, obtida do pó que é extraído e processado das folhas, é um insumo valioso que entra na composição de diversos produtos industriais, como cosméticos, cápsulas de remédios, revestimento de componentes eletrônicos, verniz e produtos de limpeza. A presença da cera nas folhas, aliás, é uma característica apenas da carnaúba brasileira, sendo consequência de sua adaptação às regiões secas. Ela dificulta a perda de água por transpiração e protege a planta contra o ataque de fungos.

A cera chamou a atenção dos europeus para a árvore ainda nos tempos do Brasil Colônia. Usada para fazer as velas, que já no século 18 iluminavam as noites na metrópole, a carnaúba era a origem de um dos principais produtos brasileiros de exportação. Mas foi no século 20 que a cera ganhou status de produto estratégico para a indústria, ao se tornar matéria-prima obrigatória de papel-carbono e graxa para sapatos, impermeabilização de metais e na fabricação dos antigos discos de vinil. Já faz parte da história a viagem épica do empresário Samuel Johnson, dono das Ceras Johnson, que, em 1935, veio ao Brasil a bordo de um hidroavião para conhecer de perto a árvore que era a origem de seus produtos para polimento de assoalhos.

Na década de 1950 começou o período de decadência econômica, pois a palmeira que crescia naturalmente não existia em número suficiente para atender a demanda sempre crescente. Isso fez com que a cera fosse aos poucos sendo substituída por derivados do petróleo que, inclusive, eram mais baratos. Mesmo assim, ela ainda é insuperável, por exemplo, como isolante elétrico nos chips de computadores. Com o tempo, os nordestinos adaptaram a matéria-prima a suas vidas e a sua cultura e aprenderam a utilizar a palha para chapéus e tapetes, que são a principal atração de várias cidades do interior cearense. Em localidades pequenas, habitações inteiras são construídas com o material da árvore: telhados, cordas, sacos, esteiras, balaios, cestos, redes e mantas são confeccionadas com suas fibras. Ainda como subproduto, a folha triturada serve como adubo para milhares de pequenas roças e pode ser usada para a alimentação de ovinos e caprinos.

Dependendo tanto da carnaúba para a sua sobrevivência, não é à toa que na região ela tenha sido apelidada de árvore da vida. No entanto, vítima da urbanização e de décadas de exploração predatória, a árvore começa a rarear em locais em que antes era abundante.